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Me Perguntaram Por que Fiz "Do Alto do Seu Encanto"



Quando me perguntaram Por que Fiz o espetáculo "Do Alto do Seu Encanto", ao invés de responder simplesmente, resolvi fazer um verbete poético visual e de quebra com este verbete homenagear soldados da arte contra a barbárie. São estes soldados o escritor John Boyne, o cineasta Mark Herman, e o produtor cinematográfico David Heyman.






PORQUÊ PAI?

É por isto que eu faço arte.
É por isto que eu promovo perguntas.

Figurinos do Encanto



O Nascimento do Texto (pra entender, leia o Nascimento da Idéia do Texto)

Dois dias e um mês depois caminhava no San Martin em Buenos Aires (foto), lia um Trevisan, lembrava delas. Deitei sobre a grama, dedilhei meus pêlos por baixo do jeans, e estava em paz. Amava e era amado. Já tinha a sorte divina de não ter mais adolescentes em minha cama e em minha grama vermelha de veias pulsantes, agora meu amor já era adulto e eu havia esperado anos por isso. Ate que avistei uma placa que proibia a entrada de "perros", imaginei... Um proibiria perros, outros negros, outros gatos, alguns maranhenses, aqueles bolivianos, aquela atores globais, você funkeiras, minha mãe umbandistas, a ruiva spilberguianos, meu tio travestis, a irmã do meu amigo o Jorge, o meu aluno proibia o professor, a morena algumas loiras, a Andréia Barros não deixaria a Andréia Lopes, o Hitler os judeus, a loira proibiria as petistas, as petistas as patricinhas, as patricinhas as putas de cinco reais. Se uma daquelas atrizes bem fodidas tivessem um útero bom, e não ressecado por Yasmin, Femiane, Etinilestradiol ou Levonorgestrel estaria eu com um filho conhecendo Saint Martin. O filho que infelizmente ainda não tenho por ser esse vádio-teatrológo USPiniano. Pensei agora de bolsa escrotal murcha e Trevisan arriado: "Quem meu filho proibiria entrar nesse parque?" "Quem meu filho (parte de mim) mandaria matar, se maldoso fosse?" "Quem, quem eu amasse e adorasse, odiaria?" "Quem, que fosse mais eu do que eu mesmo, tiraria do mundo das gramas verdes e macias?" "Quem, teria um defeito tão grave, que expeliria pra fora de meu útero masculino, das trompas do mundo?" "A que e a quem eu contra meu filho teria que incluir na Lista do Spielberg?". Nessa época, decidi que meu filho poderia ter nascido com um rabo, ou com leucemia, ou com cancro, ou ate sem um dedo... e quem o impediria de entrar nesse parque? Me deu medo, me deu tanto medo, que escrevi esse texto. Apenas um detalhe que não quero que voces esqueçam, nesses dias eu amava e acreditava ser amado, quando se está assim, mesmo a reflexão da maldade fica mais poética.

Deus gosta da Cia Sem Máscaras, olha nosso presente!

Homenagem a Benegrud Alves, interprete do Pixinguinha

Griselda, uma figurinista, uma floresta, um encantamento


Uma dia num cavalo branco, cavalgando com sua espada brilhante e cravejada de rubis assisti a chegada de Griselda, ela entrou em minha vida, me arrebatou da minha esteira de vaidades, lameou minhas pantufas rodriguianas e pintou de branco minhas vestimentas gregas de sabedoria. Estava eu, sentado no chão, lugar exato, assistindo um grupo teatral colombiano, me esforçava a entender seu rapido castelhano, e do cavalo citado antes desceu Griselda. Ela espanhola, morava na Colombia, mas nos conhecemos em solo argentino, mas isso eu so saberia na madrugada de 2006, mas ainda era manhã ensolarada, de dois dias antes do fim de 2005. Ali no chão, sentados lado a lado, descobri seu flerte com um ator do grupo de teatro de calle, pensei cafagestamente, nem Deus recusaria a cama de um casal assim. Foi ai que vi em seu pulso uma fitinha do Bonfim. A fita era de uma amiga brasileira dela, que havia amado durante anos aquele ator de olhos verdes e cabelos azuis, mas isso eu so saberia quando fizesse carinho em seus cabelos azuis, 1 ano depois, ou mais. Quando ela dividiu sua agua comigo, descobri que tinha unhas vermelhas, roidas... pintadas por ela mesma, subi meus olhos e descansei em anéis retorcidos feitos pelo namorado de cabelos azuis, mas que ele os talhou so saberia quando seu cavalo branc partisse e me deixasse olhando firme uma pista de pouso cinematograficamente molhada. Griselda costurou as roupas do grupo que apresentava a historia de um poeta que nao tinha canetas, e escrevia com que a floresta colombiana fornecia. Nunca conheci a floresta colombiana. Griselda costurou a mão as roupas, mas tinha maquina de costura em Calli, onde morava. O menino de cabelos azuis era bom ator, cantava bem, e tinha talento para um batuque. Tres ou quatro dias depois ele com seus cabelos em minha barriga e entre meus dedos, me contaria sobre os olhares de Griselda, que ela acabara de se formar na UCLA, mas numa sede da University of Los Angeles que fica em Toronto, no Canada. Ela havia feito Belas Artes, mas especializara em roupas para teatro. Ela amava branco, tecido branco em cena, mas isso so descobriria quando ela mandasse me chamar no MSN para me mandar o desenho do Pixinguinha, 3 anos depois. Quando eu, e o anjo de cabelos azuis trocamos um terno beijo na buchecha esquerda minha, com labios um pouco molhados de tequila e asperos de sal, fiquei sabendo que jah amava Griselda e que ela cuidava de meninos que sofrera maus tratos pelas guerrilhas das Farc Colombianas. Griselda me aproximava de uma sigla que achava distante e ficcional. O menino dos cabelos azuis penetrava nas noites portenhas uma mulher que desafiava o narcotrafico selvagem para salvar crianças, infantes, guris.
O menino de cabelos azuis beijava pelas esquinas argentinas na minha frente, como uma provocação, uma boca que bradava contra americanos, equatorianos, chavistas e cartelistas, bradava por meninos que perdera mãos, pernas e dignidades por um tenis Nike ou por uma vida melhor. Minha Griselda, faria nossos figurinos de Do Alto do Seu Encanto, mas me encantaria, me enfrentaria, desceria de seu cavalo de heroina contra heroinas e cocainas, sentaria na sela do chão e me convenceria de que quando grande fosse, ou encantado vivesse, teria cabelos azuis. Para beijar-lhes sua coragem e suas agulhas de tecer roupas de teatro. Dois anos depois saberia que o menino de cabelos azuis, agora os usava castanhos, como os meus.

Texto de Valter Vanir Coelho. Anna Griselda Santaolla tem 32 anos, mora em Calli, Colombia, trabalha para a ONU nas Forças Integradas de Paz captaneada pela Cruz Vermelha, formada pela UCLA-CA em Belas Artes, assina o figurino de Do Alto Do Seu Encanto.

O Nascimento da Idéia do Texto, por Valter Vanir Coelho

Resolvi contar aqui o nascimento e trajetória do nosso espetáculo Do Alto do Seu Encanto, digamos que o processo e não a estrada. Começo com o nascimento do texto e da idéia. Para quem me conhece um pouco, e isso não me incluo, porque sou um desconhecido para mim, sabe que sou um indignado, um trouxa enganado por todos, que sofre por vocação e que às vezes choro por não conseguir chorar o tanto que queria e que esse mundo mereça... digo que eu há muitos anos atrás estava indignado diante de uma penca de bananas, bananas de saias e de calcinhas de renda, vermelhas ou branquinhas de algodão, com minha vontade de introduzir nelas algo mais alem do que já sabia que era inevitável, me lancei numa missão suicida "observá-las" antes de degustar suas carnes embebecidas de cremes caros e boticários da Natura. Nessas observações deparei-me com o vai-e-vem de seis ou oito peitos durinhos, e idéias bem flácidas. Uma ruivinha, que ohava seus pêlos púbis originais, me falava de que fazia teatro e gostava dos hippies, mas ela não sabia do Hair, nem do Ademar Guerra e não cantarola Aquatius, no máximo se achava sábia por conhecer o Lirinha e seus cordéis. Antes de beijar suas sardas entre as pernas, repensei a hippie de merda que estava entre as minhas... Perguntei sobre um judeu que nomenclaturou a contracultura e ela achava linda a palavra. Deixei a no esquecimento de meus testículos. Uma nádega com uma florzinha tatuada no centro, deitada numa cama igualmente juvenil, rebolava e repetia que fazia artes cenicas desde os 10, ou 12, aquela bundinha tão empinada fazia USP, achei inacreditável que alguém que estudasse na USP pudesse ter bunda tão dura e empinada, mas ikha aí os sinais dos novos tempos. Entre pêlinhos dourados, meu nariz a ouvia, me dizia sobre um filme antigo, quando me indagou sobre o Spielberg, "Ele é judeu?" "Diretorzinho comercial, não acha?" e ela quase como uma Ewald Filho de saias, dizia maldições a seu respeito, foi ai que tudo se feneceu. A vadia-quase-virgem, trobetiou "Seus filmes visam à bilheteira e a bilheteria", pensei na burrice perdoável das universitárias, e me calei... Essa era morena. Quando a loirinha com a língua em minha orelha me desafiou, eu respondi que achava "A Cor Púrpura uma obra-prima". A USPiniana não havia visto. Repeti que o "Inteligência Artificial me emocionara", bobo que sou... entre lamber e falar, a loira preferiu falar, e disse que achava o Jude Law um gato, e se imaginava em seu penis robotico, nenhum de nos éramos bobos, mas como qualquer magra-sem-esforco ela era blasé. Falei sobre "Louca Escapada" e "Império do Sol", que a loirinha confundiu com o filme "da mulher do ovo", sua ignorância era compreensiva. Mas quando falei de "A Lista de Schindler", a resposta quase, e olha que quase é verdadeiramente muito, quase me amoleceu o falo. A morena de barriga musculosa, de umbigo fundo adornado por uma jóia versace-falsificado, repetia meu nome e me perguntou "è verdade que Hitler era casaso com uma judia?". A loira nua e educada, sentou na cama branca e resolveu re-esticar o lençol, e tímida me disse que não gostava de falar em Hitler... "Que assunto pesado Valtinho", mas segundos depois "Odeio os evangélicos", propagou! Voltando à ruiva, ela disse que achava que os franceses é q estavam certos, "Xenofobia é patriotismo invejável", vomitei nos lençóis esticados, mesmo sem nenhum fluido. Tentando se igualar em faculdade mental uma delas apertava o seio entre minhas bolas e dizia que se tratando de Coreanos da 25, ou de lanchonetes do centro, ela era quase hitleriana. Dramaturgo que me preservo, abri o frasco da observação e incitei polêmica. A burguesa filha de classe media alta, criada em condomínios achava feios os mendigos do minhocão, achava que aquilo tirava sua liberdade de saias justas e calcas Colcci. Sua mãe, uma patricinha advogada de cara enrugada e esticada, dependendo do ângulo, havia lhe ensinado que pior que os mendigos, deveriam ela ter medo dos bem-vestidos que querem come-la, como eu. E deixá-las como nós. O pai mataria os meninos de rua que limpam os vidros de seu Corolla (carro brega que justifica seus donos quadrados e filhos da puta) mas seu namorado corno não suportava mulheres infiéis. Uma outra que me beijava a virilha, se classificava como vinda de baixo, e que não suportava os sistemas de cotas, me confessava com um ou dois pentelhos na boca que não cumprimentava uma negrinha metida que havia pego a vaga de sua amiga do sul, porto-alegrense ou curitibana.

continuação...

O pai dessa piranha arrastaria pelo asfalto os Corinthianos, e sua madrasta os nordestinos, principalmente os do estado da serventia de pedreiro, uma de suas empregadas chacinaria os gatos, os felinos mesmo, não sei se essa lavadoura de pratos era sergipana ou piauiense, se bem que pra Hitler isso não faz a menor diferença, nem pra ela, nem pra você. A terceira, e mais safada das comidas, queria gozar e apressou em citar seu nojinho por ciganas na praça, por crianças com ranho, por cabelos com dreadye. Uma delas, que não vivia sem fumar maconha pra "pensar", odiava ter que buscar no morro e cheirar urina de pobre. Mas agüentava, como todas as meninas que fazem teatro, "fumar unzinho compensa o cheiro de mijo", até arranjar um jovem atorzinho gay que traga pra elas, e cheire bosta por elas, ou por amizade. Sua mãe mandaria pra Auschwitz os políticos corruptos e os policiais cariocas, seu pai de chinelos havaianas, duas pranchas de surf na Pajero e corrente de R$2.000,00 no pescoço, comprada na Bola de Neve, esbravejava contra os haulies do Tombo, no Guarujá, tinha os "pés atrás" com os espíritas, e achava que "macumbeiro é do diabo e maconheiro é usuário". Sua irmã era feliz pois já havia ligado as trompas. Com um pouco do meu corpo dentro de uma, outro pouco dentro de outra, e uma língua na que sobrava... as ouvia gemer. Nesta noite de sexo e suicidio, observação e gozo, pensei em quantas "raças" sofreria se uma delas se tornassem "doidas pelo poder" e nasceu a idéia.

este texto acima foi escrito por Valter Vanir Coelho, em 05 de Setembro de 2008